Não Tropece na Língua

Número: 085
Data: 12/06/2019
Título: FALANDO DE GENTE - NOMES PRÓPRIOS (1)

--- Nomes próprios permitem variações? Qual seria a forma correta: Vítor, Vitor ou Victor? João Carlos Magalhães, Vitória/ES


O registro civil no Brasil é bastante democrático, digamos assim. Os cartórios só não registram nomes que possam causar constrangimento. No mais, atendem ao gosto do freguês, razão pela qual se encontram muitas variações de nomes, sobretudo naqueles de origem estrangeira, como por exemplo: Wagner e Vágner; Graziela, Grasiella, Grasiela; Jeferson, Jéferson, Jefferson; Alexandra, Alessandra, Alexsandra; Mike, Maikon, Maicon, Máicon, Maicom; Luise, Luiza, Luísa (sobre este último, ver o Mural de Consultas 163).


Mas a orientação que oferecemos e que os bons cartórios adotam é a seguinte: os nomes próprios devem seguir as normas ortográficas vigentes. Portanto, sendo palavra paroxítona terminada em r, Vítor (com acento agudo) é a grafia correta.


Transcrevo a instrução oficial (Formulário Ortográfico de 1943):


39. Os nomes próprios personativos, locativos e de qualquer natureza, sendo portugueses ou aportuguesados, estão sujeitos às mesmas regras estabelecidas para os nomes comuns.
40. Para salvaguardar direitos individuais, quem o quiser manterá em sua assinatura a forma consuetudinária. Poderá também ser mantida a grafia original de quaisquer firmas, sociedades, títulos e marcas que se achem inscritos em registro público.


Vale lembrar ainda: se na prática os nomes próprios das pessoas vivas têm sido grafados de acordo com a certidão de nascimento – ainda que em desacordo com as regras de ortografia –, os nomes de pessoas falecidas (e famosas) devem se ajustar às normas ortográficas vigentes:


Cruz e Sousa [era Cruz e Souza], Vítor Meireles [Victor Meirelles],
Rui Barbosa [Ruy], Filinto Elísio [Elysio], Érico Veríssimo [Verissimo] etc.


--- Qual é a forma correta dos sobrenomes: os Sousa ou os Sousas? os Maia ou os Maias?  Wanderley Casani, Montenegro/RS


As duas formas coexistem. A tradição na literatura portuguesa, desde a “Gramática da Linguagem Portuguesa”, publicada em 1536, é pluralizar os nomes próprios ou sobrenomes: os Maias, os Silvas, os Sousas, os Albuquerques, os Costas – aliás, uso diferente da nossa língua-mãe, o latim, e do grego, que empregavam sempre o singular. Diga-se o mesmo do francês atual.


No Brasil, no entanto, houve uma flexibilização, pois há nomes que definitivamente não soam bem no plural, como Queiroses e Gils.  Sobretudo soam artificiais os de origem estrangeira, como Herings, Amins, Bauers, Bornhausens, Bortoluzzis. E se fosse obrigatório pluralizar, o nome Maciel como ficaria? “Maciéis”, como Manoel – Manoéis? Fica assim justificada a prática atual de deixá-los (corretamente) no singular: os Queirós, os Sousa, os Bauer, os Bortoluzzi, os Maciel, os Gil, os Costa, os Hering etc.