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Pergunta nº: 484
28/07/2020 - Lucas Souza
Consulta: Olá. Tenho uma dúvida quanto ao prefixo "-geral", que a Senhora já explicou no Não Tropece na Língua e no Manual da boa escrita. Concordo que, conforme as novas regras do Acordo Ortográfico de 1990, expressões como "diretor geral" não levam hífen porque o "geral" é apenas um adjetivo. Fazendo uma pesquisa, vi que o Formulário Ortográfico de 1943 define que o hífen é usado em cargos como "vigário-geral". Tal regra é mantida no AO90, pois o cargo "alcaide-mor" é usado como exemplo na base XV. Conforme explicação do gramático Evanildo Bechara no site da ABL, o prefixo "-geral" substitui "-mor" no sentido de "principal": https://www.academia.org.br/artigos/ainda-o-hifen-e-o-verbo-arguir Logo, podemos afirmar que é possível o uso de "diretor-geral" com hífen ou, ainda, que há uma incoerência no AO90 em relação às formação dessa palavra composta?

Resposta:
Obrigada, Lucas, por suas ponderações, que me permitem me alongar sobre esta questão. Primeiramente, esclareço que o Formulário Ortográfico de 1943 NÃO cometeu o contrassenso de estabelecer como regra o uso de hífen entre um substantivo e o adjetivo “geral”. O que aconteceu foi que no 7º item do “Emprego das Iniciais Maiúsculas” aparece o exemplo “vigário-geral” entre outros nomes “que designam altos cargos, dignidades ou postos”. Lembro-me de que, numa cópia bem antiga que eu usava no meu primeiro emprego (como redatora do governador de Santa Catarina), esse tracinho no meio até parecia um defeito do papel; mas também pode ter sido engano do datilógrafo, porque logo abaixo, no item 8º, constava “Diretoria Geral do Ensino”, como se publicou até 1985. Entretanto, em vez de observar melhor todas as regras e considerar aquele hífen errado, retirando-o das edições seguintes, os luminares da nossa língua resolveram introduzir um hífen nesse exemplo - Diretoria Geral – dentro do Formulário de 1943 publicado junto com o Acordo Ortográfico (AO) em 2009. Aliás, nem mesmo neste último existe a tal regra de hifenização com geral.

Quanto a comparar -geral com -mor de “alcaide-mor”, devo discordar da anotação do prof. Bechara (a quem tenho muito respeito). Registra o AO de 1990 na regra 1ª da base XV que se emprega “o hífen nas palavras compostas por justaposição [...], podendo dar-se o caso de o primeiro elemento estar reduzido”. Mas em alcaide-mor é o segundo elemento que está reduzido! O termo mor é uma contração de “maior” por síncope e assimilação, portanto não tem nada a ver a comparação com geral, que é um adjetivo sem redução.

De todo modo, assim como a Lei 5.765/71 nos fez escrever “vôo” erroneamente durante 40 anos, também o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) faz muita gente errar gramaticalmente quando admite cônsul-geral, diretor-geral e procurador-geral. Chego a pensar que foi uma imitação do inglês “Secretary-General”, que tem hífen porque neste caso “general” é um substantivo: o general, a autoridade maior (em inglês o adjetivo antecede o substantivo: “a general secretary”, p.e.). Enfim, que seja, mas como professora eu me sinto na obrigação de apontar esse tipo de irregularidade.

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