Não Tropece na Língua

Número: 027
Data: 02/05/2018
Título: ALERTA, NACIONALIDADE, CURIOSIDADE, SOLICITAR

As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.


Carlos Drummond de Andrade, em seu poema “Passagem do ano”, empregou a palavra alerta da forma clássica, isto é, deixando-a invariável. Embora se refira a “sentidos”, alerta não está no plural.


Por outro lado, vemos manchetes nos jornais: Hospitais alertas, Ressurge febre amarela – comunidades alertas. Está errado fazer essa concordância? Não, de acordo com padrões mais modernos de linguagem. Houve uma evolução no emprego desse termo e alguns dicionários registram tal fato.


Na sua origem italiana, alerta é interjeição (Alerta!) que passa a ser também advérbio em português (além de substantivo, o que não está em discussão). Portanto, como todo advérbio, é palavra invariável, ou seja, não tem singular nem plural, nem flexiona no feminino. Assim consta nos dicionários de Cândido Figueiredo (1949), Antenor Nascentes e Francisco Fernandes, e nas gramáticas de Evanildo Bechara e Luiz Antonio Sacconi. Estes autores não mencionam alerta como adjetivo e exemplificam: Estejamos alerta / São pessoas alerta.


Já o VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa), o Dicionário Aurélio, Laudelino Freire (1954), Napoleão Mendes de Almeida e outros registram as duas possibilidades: advérbio (em atitude de vigilância, de sobreaviso; atentamente) e adjetivo (atento, vigilante), quando então acompanha o substantivo em número: homens alertas, hospitais alertas. Havendo, pois, controvérsia, a matéria não deve de modo nenhum fazer parte de concursos e provas. Seu uso é pessoal e a escolha depende muitas vezes do contexto.


Uma boa opção pode ser o uso da locução em alerta: hospitais em alerta / os presídios estão em alerta depois dos ataques / as pessoas ficaram em alerta.
 

BRASILEIRO OU BRASILEIRA


Diante de um formulário em que conste a nacionalidade, você escreve "brasileira" porque nacionalidade é palavra feminina? Não por isso. Ali deve ser feito o registro de acordo com o sexo da pessoa – brasileiro ou brasileira –, como se a pergunta fosse: quanto à nacionalidade, o que você é? Resposta: eu, João, sou brasileiro; eu, Maria, sou brasileira. Não é dessa maneira que se faz o reconhecimento do estado civil? Sim, casado ou casada. Isto é: quanto ao estado civil, sou casado/casada, solteiro/solteira, viúvo/viúva.


O mesmo ocorre no registro da profissão: contador/contadora, funcionário público/funcionária pública, advogado/advogada e assim por diante. E quanto ao sexo? Seria absurdo dizer: sou feminina, sou masculino, por isso se faz a concordância com o substantivo sexo: feminino ou masculino, só.


CURIOSIDADE E SOLICITAR – REGÊNCIA  


--- A palavra curiosidade pede qual preposição? M. S., Campo Grande/MS


Há três possibilidades: de, em e por. Exemplos:


Tenho curiosidade de saber quem ficou com o dinheiro do INSS.

Temos curiosidade em todas as matérias.

As crianças não tiveram curiosidade pelo final da história.


--- Com o verbo solicitar se usa a preposição a ou de?


As duas preposições podem ser usadas:


Solicitamos a V. Exa. todo o apoio à nossa causa.

Solicitamos de V. Exa. o apoio necessário à comemoração dos 500 Anos.