Não Tropece na Língua

Número: 026
Data: 25/04/2018
Título: INDEPENDENTE OU INDEPENDENTEMENTE

Discussão que já deu panos pra manga: pode-se empregar independente como se fosse independentemente? Da mesma forma, é possível usar breve por brevemente? Paralelo por paralelamente? Primeiro, é preciso ver como falamos todos os dias:


Saiu rápido.

A senhora pode levar o pano que dá folgado.

Caminhou tão lento...

Falou bonito.

A mais cara tecnologia antienchente foi utilizada pela Teka, que resolveu investir pesado contra as intempéries.

Breve estarei aí com vocês.

Os motoristas que estacionarem em qualquer Zona Azul sem cartão serão multados direto.


As palavras grifadas são adjetivos que estão sendo usados como advérbios de modo (modificando verbos). Isso é normal em português. Na nota nº 28 da Réplica, o então senador Rui Barbosa já defendia o uso de “independente” – que o gramático Dr. Ernesto Carneiro Ribeiro, em 1902, lhe havia aconselhado substituir por “independentemente” na redação do Projeto do Código Civil – “porquanto é muito da nossa língua evitar os largos advérbios em mente, substituindo-os pelos adjetivos adverbialmente empregados”. E Rui dá exemplos extraídos de “Obras” de Filinto Elysio: “Fácil se vê. Comeu fino, bebeu largo. Direito se encaminha. Brando o atalha. Sem pranto um avarento raro acaba. Folgado dançariam nelas quatrocentas pessoas” e também do clássico “Nova Floresta” do Pe. Bernardes: “procedia mais discreto, portando-se impertinente, pouco nacional procede, quis portar-se fiel”.


É preciso aceitar que há frequentes casos, remanescentes do latim popular e do próprio latim clássico, em que o adjetivo – e não o advérbio – é utilizado para exprimir o modo, como por exemplo: não fale alto; pagou caro; vendeu barato; ande direito; a esperança que corre tão ligeiro. Observe-se ainda que, quando é usado adverbialmente, o adjetivo fica sempre no gênero neutro, ou seja, no masculino. Sendo puramente adjetivo, aí, é claro, ele flexiona: saias caras, indivíduos altos, mão direita etc. Desta forma, cabe-nos a escolha entre um e outro modo de expressão nos seguintes casos:


Ela olhou diretamente/ direto para mim.

Independentemente/ independente de qualquer oferta, pedirei demissão.

A lição foi boa – aprendi fácil/ facilmente.

Desceu solene/ solenemente a rampa do Palácio.

Marina falou pausado/ pausadamente.

Estás enxergando claro/ claramente?


Já no caso de paralelo e diferente, é recomendável o uso, no português escrito formal, da variação em -mente quando eles introduzem um adjunto adverbial significando “de modo paralelo/ diferente”:


Paralelamente ao debate haverá uma exposição multimídia.
[Ou opte por escrever "Haverá exposição paralela ao debate".]
 

Diferentemente dos seus avós, o ilhéu agora gosta de ser chamado de "mané".