Não Tropece na Língua

Número: 218
Data: 27/01/2016
Título: COMPUTO, ME ADÉQUO, EXPLUDO (2)

 Em vista de três consultas específicas, estávamos falando sobre os verbos defectivos ou defeituosos, aqueles que apresentam lacunas em algumas pessoas verbais. Nessa categoria se enquadram todos os verbos que exprimem fenômenos meteorológicos. Por exemplo, amanhecer, chover, anoitecer, garoar, gear, nevar, trovejar só se conjugam na terceira pessoa do singular de cada tempo e não possuem as formas imperativas. São chamados verbos impessoais.

 

Há outros que podem ser considerados defectivos, os pessoais, que se apresentam sobretudo na terceira pessoa do singular e do plural de cada tempo, como os que exprimem fenômenos da natureza vegetal (arborescer, frutificar, murchar, verdejar, vicejar etc.) e os verbos onomatopaicos ou imitativos de vozes animais e de ruído das coisas (balir, cacarejar, ganir, grasnar, latir, mugir, badalar, chiar, espoucar/espocar, tilintar/tlintar etc.). 
 
Tanto os verbos que exprimem estados atmosféricos ou vegetativos quanto os onomatopaicos admitem conjugação completa, pois eles podem ser empregados em sentido figurado (eu trovejei de raiva, amanheço pensando em ti, nós frutificamos, eles uivaram de dor) e também em outras acepções, como “eles badalam em todas as festas;  o filme foi muito badalado”.
 
Alguns, entretanto, continuam defectivos, já que não têm a primeira pessoa do presente do indicativo, tais como os verbos falir, parir, balir, latir, colorir, que por conseguinte não têm o presente do subjuntivo.
 
EXPLODIR não é verbo defectivo em si. Ele é conjugado conforme o verbo dormir, segundo dicionários especializados; portanto, pode-se dizer “ele explode, eu expludo; ele que expluda o balão”. O dicionário Houaiss registra as conjugações brasileiras explodo, exploda, observando que também existem expludo e expluda. Já vi expludo em livros editados em Portugal, numa boa. Aqui, depois que o ex-presidente Figueiredo falou (corretamente) “eu expludo”, criou-se o estigma e a má reputação do verbo, como se ele devesse ter explodido de outra forma: "Ele que se exploda!"
 
COMPUTAR não é tampouco verbo defectivo. Existem e são usadas formas como “eu computo, ele computa os dados diariamente; computa isso para mim?” Não falar “computa” seria talvez uma opção pessoal por causa da sonoridade indigesta para alguns. O dicionário Aurélio não traz o presente “computo, computas, computa”, como faz o Houaiss, que registra todas as formas. Mas devemos lembrar que as palavras existem não porque os dicionários querem que elas existam. É o contrário: os dicionários devem espelhar o vocabulário existente. 
 
De qualquer modo, um alerta: quem está se submetendo a um concurso público deve evitá-las, pois nunca se sabe o grau de tolerância da comissão que vai corrigir as provas, a qual pode aceitar ou rejeitar o Houaiss, dicionário que se propôs a registrar um uso efetivo, encontrado mesmo entre falantes cultos, assim considerados, na ciência linguística, os brasileiros da zona urbana que têm curso superior completo. Aliás, formas em discussão jamais deveriam ser objeto de provas de língua portuguesa.