Não Tropece na Língua

Número: 194
Data: 14/07/2021
Título: ONDE USAR ONDE (2)

Como já vimos, o pronome relativo onde significa o lugar onde, o que pode ser dito igualmente como o lugar em que, ou simplesmente em que quando há um antecedente explícito: o lugar em que / a ciclovia em que / a rua em que estamos. Ou seja, onde pode ser substituído por em que:

 

A cidade onde moro é linda = A cidade em que moro é linda.
 

Fomos fazer rafting, e o bote em que estávamos virou.
 

Há lugares no mundo em que se vive muito bem. 

 

Todo onde equivale a em que, mas nem todo em que equivale a onde. Por não se darem conta disso – e talvez pela lei do menor esforço – as pessoas estão usando onde em qualquer situação, mesmo quando só é possível usar em que [ou no qual, na qual, nos quais, nas quais depois de vírgula] por uma questão de regência verbal ou nominal. 

 

Vamos tomar como exemplo a frase “Ambos arranjaram empregos vantajosos, onde colocavam muitas esperanças”. O relativo onde foi usado de maneira errônea porque, apesar de “empregos” ser aparentemente um lugar, a sintaxe é outra: diz-se que ambos colocaram esperanças EM empregos, NOS empregos vantajosos que arranjaram. E é essa preposição que deve aparecer na oração subordinada: “Ambos arranjaram empregos vantajosos, nos quais colocavam muitas esperanças”.

 

Vejamos outras frases que são consideradas erradas de acordo com a norma-padrão (culta) e portanto não são aceitas em concursos, provas e redação oficial [o asterisco marca a presença de erro na frase]:

 

*Fez várias declarações de amor, onde fica evidente o desejo de reatar o namoro.
 

*Quais são as modalidades onde seu filho é campeão?
 

*Vamos assistir a um espetáculo bem brasileiro, onde Maitê faz um pequeno papel.
 

*Isso parece responder a uma construção teórica bastante curiosa, onde os sujeitos do presente encontram um lócus historiográfico que reconhece o seu papel.
 

*Vão focalizar os jovens e a família onde a doença foi detectada.
 

*A internet é uma grande chance de trabalhar um modelo pedagógico onde o poder constitutivo da ação do sujeito seja valorizado.

 

As mesmas frases, corrigidas, ficam assim:

 

Fez várias declarações de amor, nas quais fica evidente o desejo de reatar o namoro.
 

Quais são as modalidades em que seu filho é campeão?
 

Vamos assistir a um espetáculo bem brasileiro, no qual Maitê faz um pequeno papel.
 

Isso parece responder a uma construção teórica bastante curiosa, na qual os sujeitos do presente encontram um lócus historiográfico que reconhece o seu papel.
 

Vão focalizar os jovens e a família em que a doença foi detectada.
 

A internet é uma grande chance de trabalhar um modelo pedagógico em que o poder constitutivo da ação do sujeito seja valorizado.

 

Pode-se confirmar a necessidade da preposição em (embutida em no e na, é claro) fazendo-se a inversão da frase: “Fica evidente o desejo de reatar o namoro nas declarações de amor / seu filho é campeão nas modalidades / Maitê faz um pequeno papel em um/num espetáculo bem brasileiro / a doença foi detectada na família” e assim por diante.