Não Tropece na Língua

Número: 154
Data: 07/10/2020
Título: IMPLICAR SEM IMPLICAÇÕES

--- Gostaria de saber qual é a transitividade do verbo implicar na frase: a aceitação desta proposta não implica “na” contratação de serviços futuros. A.P., Brasília/DF


--- Gostaria que esclarecessem a seguinte dúvida: implicar é transitivo direto ou indireto? Já vi o referido verbo empregado das duas formas e não sei qual é a tecnicamente correta. Ex: 1) A contratação de funcionários qualificados implicará em gastos excessivos. OU 2) ...implicará gastos excessivos. G.C., São Paulo/SP


No sentido de “ter como consequência, resultar, acarretar, originar, pressupor, exigir, tornar necessário”, o verbo implicar é transitivo direto, devendo ser usado sem a preposição:


Maior consumo implica mais despesas.

Combater a desigualdade implica adotar medidas drásticas neste momento.

A contratação de funcionários qualificados implicará gastos excessivos.

A aceitação desta proposta não implica a contratação de serviços futuros.

Os novos estágios de modernidade na arquitetura não implicam a destruição de épocas passadas.

A utilização de energia nuclear implicaria riscos tremendos.


No entanto, por analogia com três verbos de significação semelhante mas de regência indireta, quais sejam, resultar em, redundar em, importar em, o verbo implicar passou a ser usado com a preposição “em”, sem que nosso ouvido encontrasse nisso alguma estranheza. Tanto é assim que no Dicionário Prático de Regência Verbal, de Celso Pedro Luft, está registrado “TI: implicar em algo”, com a observação de que essa regência é um brasileirismo já consagrado e “admitido até pela gramática normativa”.


Aberta a concessão, nós brasileiros vamos aceitar como correta a regência indireta do verbo implicar nas mesmas frases:


Maior consumo implica em mais despesas.

Combater a desigualdade implica em adotar medidas drásticas neste momento.

A contratação de funcionários qualificados implicará em gastos excessivos.

A aceitação desta proposta não implica na contratação de serviços futuros.

Os novos estágios de modernidade na arquitetura não implicam na destruição de épocas passadas.

A utilização de energia nuclear implicaria em riscos tremendos.


Contudo, se na prática valem os dois usos – e até por uma questão de economia – é melhor deixar a preposição de fora, não é mesmo? Para mim a frase geralmente soa melhor sem a preposição, mas nem sempre – cada caso é um caso.


Outra coisa: seja qual for sua escolha, mantenha a coerência quando usar o verbo implicar com dois objetos diretos coordenados. Não se deve usar um objeto preposicionado e outro não, como neste exemplo: *A exigência das notas fiscais implicaria novos custos e também em operações humilhantes para muita gente. A solução é se valer só da regência inovada brasileira ou só da clássica:


A exigência das notas fiscais implicaria em novos custos e também em operações humilhantes para muita gente.

A exigência das notas fiscais implicaria novos custos e também operações humilhantes para muita gente.